11 de janeiro de 2013

Indústrias ameaçam reduzir descontos a medicamentos este ano

Da Redação

O setor farmacêutico brasileiro foi um dos poucos que passaram longe da crise financeira global desencadeada em 2008 e manteve crescimento acima de dois dígitos nos últimos anos. Neste ano, as indústrias instaladas no Brasil projetam crescimento de até 14% em receita em relação a 2011, e as perspectivas indicam que em 2013 a expansão pode até superar os dois dígitos, mas sem o mesmo desempenho robusto de antes.

A indústria farmacêutica do país está entre as atividades com margens líquidas mais atraentes, entre 18% e 28%, segundo fontes do setor. Pesquisa feita pelo Valor Data mostra que a margem líquida de cinco grandes grupos nacionais oscilou entre 14% e 27%. Na comparação com farmacêuticas americanas, a margem líquida média também é alta – entre 10% e 25%.

Os custos de produção farão parte do centro de discussão do setor em 2013. “O aumento médio salarial entre 2007 e 2012 foi de cerca de 60%. Começamos o ano com o dólar a R$ 1,60 e vamos encerrar com uma média de R$ 2,10”, disse Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma). “O setor vai continuar em expansão, mas as indústrias vão abrir mão da margem.”

A alta do dólar para as farmacêuticas pressiona os custos, uma vez que boa parte dos insumos para a produção de medicamentos é importada. As indústrias de genéricos nacionais, responsáveis em grande parte pela atração de investimentos externos, também estão adotando um discurso mais moderado. “Vemos 2013 com preocupação”, afirmou Telma Salles, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos). Os laboratórios produtores de genéricos são os que têm maior flexibilidade para conceder descontos, em média, de 50%. “Isso poderá ser revisto devido aos altos custos das indústrias”, disse.

As perspectivas para 2013 não contemplam crise, a não ser que o quadro macroeconômico se agrave e o desemprego avance no país. “A renda é um fator importante para nossas indústrias. Se houver desemprego, o impacto é instantâneo porque as pessoas deixam de pagar plano de saúde e reduzem a compra de medicamentos”, afirmou Mussolini. Segundo Telma, da Pró Genéricos, a expectativa das indústrias para expansão será no aumento do acesso aos medicamentos por meio de políticas públicas. “Estamos batalhando para isso”, disse.

Ao contrário do movimento aquecido de fusões e aquisições, observado entre 2009 e 2011, essas operações serão menos intensas nos próximos meses para o setor. “O glamour do mercado brasileiro continua, mas o movimento é de cautela”, afirmou Mussolini. O Brasil continua alvo de interesse de grandes farmacêuticas globais que ainda não estão no país. No entanto, a oferta menor de ativos à venda com seus preços inflacionados poderá reduzir o volume de transações no mercado.

A comercialização de genéricos no país atingiu 621,4 milhões de unidades (caixas) no acumulado do ano até novembro de 2012 – crescimento de 19% sobre igual período do ano passado, segundo a Pró Genéricos. Em receita, as vendas totalizaram R$ 10,2 bilhões, alta de 29% em relação aos 11 meses de 2011. De janeiro a novembro, a venda total de medicamentos, incluindo os de referência, similares e genéricos, alcançou 2,371 bilhões de unidades (caixas) no acumulado, alta de 12% sobre igual período do ano passado, de acordo com dados da consultoria IMS Health.

O faturamento do setor no período somou R$ 45,5 bilhões, aumento de 12% em relação aos 11 meses de 2011. Os valores até novembro deste ano já superaram as vendas de 2011, que encerraram em R$ 42,8 bilhões. Vale lembrar que o IMS audita a receita bruta, sem os descontos concedidas pelos laboratórios.

Fonte: Valor Econômico

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