26 de fevereiro de 2020

Febrafar prevê ano de crescimento para o varejo farmacêutico no País

Nunca o brasileiro teve tanta opção de locais na hora de comprar medicamentos. É comum encontrar duas, três farmácias e drogarias em apenas uma quadra. Os números comprovam a força do setor: são 78,7 mil lojas espalhadas pelo Brasil, segundo dados da IQVIA, que audita o varejo farmacêutico global.

A chegada da tecnologia e a informatização dos pontos de venda, a partir da década de 1980, deu o start na expansão do segmento. Além das grandes redes, pequenas empresas também empreenderam na atividade e, para fazer frente à concorrência, muitas optaram pelo associativismo. Atreladas a uma bandeira, conseguem aumentar o poder de negociação com fornecedores através de compras em escala, otimizar a gestão, reduzir custos e competir de forma profissionalizada.

O presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e da administradora de redes associativistas de farmácias Farmarcas, Edison Tamascia, destaca também a diversificação no número de produtos comercializados e da oferta de serviços. Em faturamento, a Febrafar já representa mais de 11% do mercado.

Empresas & Negócios – Qual balanço a Febrafar faz do ano de 2019 para o segmento?

Edison Tamascia – O varejo farmacêutico movimentou R$ 120,9 bilhões no ano passado (segundo dados da consultoria IQVIA). Esse montante representa um acréscimo de 7,6% na comparação com 2018, ou seja, 2019 foi muito positivo, resultado muito superior ao do PIB, que deve ficar em torno de 1% a 2%. Registamos evolução em todos os modelos de farmácias. O destaque no período foi o crescimento das farmácias das redes associativista ligadas à Febrafar, que no mesmo recorte cresceram 14,89%, passado o faturamento de R$ 11,92 bilhões para R$ 13,70 bilhões., o que é motivo de comemoração.

E&N – Apesar do saldo positivo, é comum perceber a abertura e o fechamento de unidades com muita frequência. Este é um fenômeno normal?

Tamascia – Este fenômeno se repete ano a ano no Brasil, com uma grande movimentação de abertura e fechamento de farmácias em todas as regiões. Nos últimos quatro anos, para se ter uma ideia, 32.622 farmácias foram abertas e 26.163 fecharam as portas, o que representa uma renovação de 33% na base do setor farmacêutico em operação no Brasil. O segmento associativista é o que menos registra fechamento de unidades se comparado com os demais agrupamentos que compõe o mercado, respondendo por 0,9% do volume de lojas fechadas. No caso dos empresários independentes, são comuns as dificuldades de investimentos e pouca capacidade de gestão. Isso é fatal diante da concorrência acirrada. Já para as grandes redes são os resultados que ditam a permanência ou não em determinado local: as unidades que não se mostram viáveis são encerradas após poucos meses de operação.

E&N – O mercado está saturado ou ainda há espaço para crescer?

Tamascia – Algumas redes concentram sua expansão em mercados mais congestionados, o que proporciona uma percepção de saturação no número de farmácias. No entanto, o Brasil é muito grande e há inúmeras praças disponíveis e oportunidade de negócios em todas as regiões. Permanecerão no mercado as farmácias e drogarias que fizerem a lição de casa, profissionalizando a operação.

E&N – E como fica a questão da concorrência?

Tamascia – O varejo farmacêutico tem muitos concorrentes de peso disputando um mercado de aproximadamente R$ 120 bilhões, o que o torna  um dos segmentos de mercado mais competitivos do Brasil. Por isso, volto a reforçar que, para conquistar os clientes, é preciso investir em alto nível de capacitação e estar bem informado do que é necessário para o bom andamento dos negócios. O mercado não está mais difícil nem mais complexo do que já foi no passado, o que mudam são os desafios. Para 2020, o principal será colocar o consumidor no centro do planejamento estratégico e buscar todas as ferramentas e conhecimentos necessários para melhorar a experiência de compra. Isso passar pela qualificação do layout da loja, do mix de produtos e administração de estoques, gestão de compras e precificação, qualidade de atendimento e da prestação de serviços. Esses temas não podem sair da pauta de atividades do gestor.

E&N – Como as redes farmacêuticas associativistas se inserem nesse contexto?

Tamascia – As farmácias das redes associadas à Febrafar que utilizam as ferramentas de gestão disponibilizadas vêm se destacando, pois passam por uma maior profissionalização, percebem como é o mercado e crescem acima da média. Sem dúvida, o associativismo ajuda a fortalecer pequenos e médios negócios, tornando-os competitivos, a fim de elevar o padrão de qualidade de produtos e serviços, minimizando custos e possibilitando acesso a novos mercados consumidores. Mas os associados também precisam fazer sua parte e buscar a profissionalização. Isso está acontecendo ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, a participação no mercado das redes da associação também vem crescendo, sendo que em 2015 essas representavam 8,9% do faturamento do mercado e em 2019 já respondem por 11,3%. A Febrafar fechou 2019 com 56 redes e 9.863 pontos de venda, isso representa a presença em 51% das cidades brasileiras, o equivalente a 2.855 de 5.570 municípios, e está presente em 27 estados.

E&N – Quais são as expectativas do setor para 2020?

Tamascia – Acreditamos que o cenário de crescimento permanecerá, e o mercado farmacêutico irá se desenvolver e criar muitas oportunidades de negócios. Mas, para isso, é necessário manter a competitividade, o que exige agregar valor à marca e conquistar a confiança do cliente. Além disso, o crescimento só será consistente se ocorrer em função da profissionalização das lojas, e não apenas na abertura de novas lojas. O ponto primordial é que esse crescimento proporciona benefício a todos, com destaque à população, que possui cada vez mais acesso aos medicamentos. Outro ponto que precisa ser tratado com cuidado, neste ano, principalmente pelas farmácias que oferecem algum tipo de programa de relacionamento e fidelidade, é a entrada em vigor da Lei 13.709/2018. A chamada Lei Geral de Proteção de Dados trará grandes impactos sobre os dados pessoais dos clientes. Essa legislação pontua regras e responsabilidades quanto ao registro, armazenamento e manipulação de informações obtidas de clientes durante o processo de compra. Recomendamos aos empresários que fiquem atentos e, se necessário, busquem uma consultoria jurídica especializada para compreender os impactos dessa nova norma sobre os negócios.

E&N – Fatores públicos podem influenciar o setor?

Tamascia – Sim, especialmente no campo da gestão pública. Destacamos temas como rastreabilidade e logística reversa, que devem continuar durante o ano, inclusive com a execução de alguns programas-piloto para testar sua viabilidade. Mas, de fato, isso deve ter pouco impacto nos negócios em 2020. Independentemente desses fatores e outros que podem ocorrer durante o ano, as empresas com maior nível de profissionalização continuarão a crescer.

Fonte – Jornal do Comercio RS  – Cristine Pires

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