28 de fevereiro de 2020

Febrafar e Abradilan debatem futuro do mercado farmacêutico

A Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e a Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan) se uniram pela quarta vez para realizar mais uma edição da Conferência Febrafar e Abradilan de Líderes do Mercado Farmacêutico, que ocorreu na sede da Febrafar, na capital paulista, nos dias 19 e 20 de fevereiro de 2020.

Confira cobertura fotográfica do evento

O evento é direcionado aos diretores das duas entidades e convidados especiais. A proposta é possibilitar aos participantes a oportunidade de debater ideias e trocar experiências em relação ao setor farmacêutico, analisando o desenvolvimento do segmento, procurando ampliar a visão e os cenários. Isso além de elencar os pontos de atenção, estabelecer os principais desafios e as novas oportunidades de negócios./

Para o presidente da Abradilan, Vinícius Andrade, o evento é um marco no calendário das duas entidades, pois apresenta um conteúdo de relevância, com foco na reflexão. “Trazemos toda a cadeia farmacêutica para que possamos olhar para o presente, mirando o futuro dentro das necessidades de cada um, para podermos construir juntos um mercado farmacêutico mais forte e mais relevante. A qualificação se faz cada vez mais necessária para enfrentar os desafios do dinamismo das mudanças. Como executivos, além de qualificar nosso time, para garantir um resultado de curto e médio prazos e garantir a operação, temos o desafio de definir onde queremos estar daqui cinco anos. A única coisa que a gente sabe é que a dinâmica do mercado estará muito diferente do que está hoje, por isso, precisamos tentar definir uma estratégia benfeita para que em 2025 nossas empresas estejam melhores do que elas estão hoje”.

O presidente da Febrafar, Edison Tamascia, ressaltou que a ideia do evento deste ano foi dar aos empresários associados de ambas as instituições uma visão estratégica de futuro. “A programação contemplou temas de economia, política e as principais tendências em tecnologia e inovações aplicadas ao nosso setor. Houve uma preocupação de trazer pessoas que operam outras empresas para que a realidade do dia a dia esteja presente.”

Abrindo o primeiro dia de apresentações, Gustavo Veber e Kal Rodrigues, da Geolab, mostraram a evolução da construção da planta 2 do laboratório, que fica a 1 km da planta atual, em Anápolis (GO), em condições muito mais estratégicas, com padrão de altíssimo nível, o que demandou investimentos da ordem de R$ 300 milhões. “Em 2019, foram produzidas cinco bilhões de unidades farmacêuticas na planta atual, com a nova planta, a capacidade de produção vai ser mais do que o dobro”, revelou Veber.

Os resultados se mantêm acima da média do mercado devido, entre outros fatores, à estratégia de lançamentos de produtos. “Foram lançados 20 novos SKUs, ano passado, para este ano pretendemos aumentar em 10% o nosso portfólio. Devemos lançar 26 novos itens durante 2020, seis deles foram lançados agora em fevereiro e a cada dois meses a gente lança uma nova leva. Entre 2020 e 2024 devemos faturar meio bilhão só em produtos que ainda não existem no portfólio. Na nova planta, os focos iniciais serão colírios e alternativas em bombinhas para saúde respiratória”, comentou o executivo. Entre as ações da empresa, há ainda a parceria com a Alcon, onde acontecerá o licenciamento de marcas via Geolab, para que a Alcon propague.

A programação contou com conteúdo de alta relevância, de Gustavo Froes e Pedro Ranieri, da E2E Technology. Os especialistas destacaram a importância da tomada de decisões assertivas para o negócio. “De que forma consigo escalar isso de uma forma mais rápida, qual é o valor, a partir daí começo a pensar em modelos de otimização. Quais são os dados necessários, que conhecimento interno preciso ter e qual a tecnologia mais apropriada. Não é porque todo mundo usa machine learning, que eu preciso usar, ela pode ou não ser usada. Posso fazer uso de analytics, para precificar bem, saber o histórico de vendas e dos estoques, posso criar um calendário para verificar a sazonalidade. Nesse caso, o analytics vai mapear decisões relevantes e melhorar essas decisões. Se eu tive previsão e não fizer nada com isso, nada vai fazer diferença”, disse Froes.

Eduardo Rocha, do IQVIA, revelou que em 2019, o Brasil dispensou seis bilhões de unidades de medicamentos, são 500 milhões de unidades por mês, R$ 121,1 bilhões a preço consumidor, mais de R$ 10 bilhões por mês, não à toa, o Brasil é a sexta e sétima maior economia do mundo. “Provavelmente estará, num curto espaço de tempo, entre as cinco maiores economias mundiais. Se a gente olhar para as 79 mil farmácias existentes no Brasil, 71% dos negócios são focados em medicamentos, se a gente olhar em unidades, são 63%, então farmácia foi feita para vender remédio”, afirmou. Rocha revelou que em uma pesquisa realizada pela auditoria, entre dez consumidores, oito ou nove dizem que vão à farmácia para comprar medicamento; dos que vão para comprar medicamento, se não encontram o medicamento que procurava, seis ou sete vão embora sem comprar nada. “Não adianta, a farmácia é um local de dispensação de medicamentos, sejam eles de receituário ou isentos de prescrição.

De 2018 para 2019, em valores, o mercado melhorou, saindo de 5,4% para 7,8%, teve isso se deu principalmente pelo lançamento de produtos de altíssimo valor agregado, mais a alta de preços. “Quem conseguiu crescer acima de dois dígitos, nos últimos dois anos, foi só a Febrafar e além disso, ela sai de 13,8% para 15,6%, em unidades, estamos falando mais que o dobro do crescimento do ano passado”, pontuou.

Nos últimos dois anos, foram abertas cerca de 14 mil novas farmácias, a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) abriu 1.305 unidades, mas fechou 270, 4% do que ela tinha na base; outras redes, abriram 830, mas fecharam 670; Febrafar, abriu 1.170 e não fechou praticamente nada, fechou um número irrisório de 30 lojas. Independente abre dez mil e fecha cinco mil.

“Se a gente olhar para a distribuição, 64% do que é transacionado no Brasil, está na mão do distribuidor, é muita coisa. Em unidades, estamos falando de três milhões em 2019. Falando de Abradilan, ela tem 28% do mercado total de distribuição e 18% do mercado total quando se considera também o varejo. O mercado total de distribuição é de 3,8 bilhões de unidades e o mercado total e varejo é de R$ 6 bilhões. Para genéricos, a Abradilan significa 44% do volume em unidades; em trade e similar, 48% do volume. “Ainda tem bastante oportunidade com os medicamentos de referência e em consumo”.

No período da tarde, Wilson Borges, da Natulab, laboratório que completa 20 anos em 2020, apontou que ele se tornou a décima maior empresa farmacêutica no mercado farmacêutico total, quinta maior no mercado de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), número 1 no mercado específico. “Compromisso não é só com resultados, temos compromisso muito grande com ética, com prática de valores, não é resultado a qualquer preço. Não queremos ser reconhecidos como a melhor empresa do mercado, a gente tem trabalhado para ser a única empresa capaz de entregar os resultados que nós entregamos, isso faz uma diferença muito grande porque a gente se mira na gente mesmo para evoluir a cada ano”.

No último ano a Natulab cresceu 46% em receita operacional, e em unidades, cresceu 21% e muito desse resultado se deve ao Floratil, que foi adquirido pelo laboratório recentemente. Borges comenta que em 2015, a empresa tinha 33 marcas entre as três primeiras do mercado, hoje a Natulab tem 38 marcas que são líderes, vice-líderes ou terceiras colocadas nos seus respetivos mercados. “Maxalgina (dipirona), por exemplo, é o maior produto em vendas no mercado farmacêutico no Brasil, vende cerca de quatro milhões de unidades/mês.”

Cenário político e econômico

Carlos Melo, do Insper, dissertou sobre cenário político brasileiro e a necessidade de olhar de forma ampla para o mundo, já que estamos vivendo a 4ª revolução, processo inédito que vai atingir todos os setores, profundamente e ao mesmo tempo. “A produtividade cresce, a vida está mais dinâmica, temos mais conforto, mas há um processo, por outro lado, de mudança enorme do padrão do mundo em relação ao trabalho, engenheiros, publicitários, que estão reinventando sua forma de trabalho. Há cerca de 375 milhões de pessoas no mundo todo que precisarão encontrar novas profissões por conta da automatização, mas até 2030, a adoção máxima da inteligência artificial pode gerar cerca de 100 milhões de novos empregos no setor de serviços.”

Segundo ele, o mundo precisará da política, para coordenar esse processo, mas ela está em crise e tem um grande problema com diagnóstico, ela não consegue fazer diagnósticos competentes nessa grande transformação do mundo. “Por não ter um diagnóstico claro, tem sérios problemas de diálogo, o que faz com que ele fique cada vez mais escasso, entre os políticos e sobretudo na sociedade. O problema de diálogo, de diagnóstico e de articulação, prejudica a criação de um consenso, torna a coordenação do estabelecimento de um caminho para a liderança se faz cada vez mais necessário. As políticas estão voltadas para a reforma fiscal, mas fica um grande vazio nas questões sociais. Todas as reformas enfrentam uma série de resistências e algumas delas não se consegue vencer.

Zeina Latif, economista e consultora, deu um panorama do cenário econômico atual. Ela fez algumas observações importantes. “Quando as coisas ficam ruins, o crédito piora e agrava o quadro econômico porque a gente tem um país com muita insegurança jurídica. A capacidade dos bancos de recuperar ativos diante de uma situação de inadimplência é muito baixa.” De acordo com Zeina, o consumo começa a ganhar tração, cerca de 2%, mas porque não conseguimos mais atingir o crescimento de 3,5% nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva? Primeiro por conta de muitos investimentos equivocados, de baixa qualidade.

“A gente investiu mal os recursos públicos, por muito tempo e para isso, alguma outra coisa deixou de ser feita, como infraestrutura em logística, por exemplo. Segundo ponto, houve muito intervencionismo estatal no governo Dilma Rousseff, gerando perda de produtividade na economia, quando se beneficia um setor e não o conjunto da economia. Por fim, uma crise prolongada, de recuperação lenta, piorou a qualidade da mão de obra. Consequência: vendas do varejo acelerando e a produção industrial não acompanhando, o que se traduz em aumento de volume de importados. Isso impede um crescimento mais forte da economia e não é a Selic de 4,25% que vai salvar, é lógico que ela ajuda, mas o que vai salvar é melhorar o ambiente de negócios, a carga tributária, etc.”

Inovação e oportunidades

No segundo dia da Conferência, Luiz Clavis, da Hypera, mostrou que a empresa teve um crescimento de demanda de 10% em 2019, crescimento em linha com o mercado, sendo que 85% vem de lançamentos. Segundo ele, a Neo Química é maior unidade de similares e genéricos e representa 40% do negócio Hypera, estando presente em 80% dos lares brasileiros.

“Investimos mais R$ 265 milhões em novos projetos, 95 novos produtos somente em 2019 e ainda há 390 projetos para os próximos anos, o que gera um faturamento de R$ 5 bilhões. Os lançamentos dos últimos anos, mais os lançamentos de 2019 representam 26% de toda a venda da companhia. Quem continua fazendo a mesma coisa, dificilmente conseguirá continuar crescendo junto do mercado.” O executivo anunciou, entre outros lançamentos, a chegada de Engov After, no mercado. O produto tem em sua composição sais minerais, cafeína e glicose é pronto para beber.

Paulo Paiva, do Close-Up, pontuou a importância do distribuidor para pequenas e médias farmácias. Ele disse que ao olhar mix por preço, 67% da venda se dá em preço muito baixo, ou seja, até R$ 10,00 a unidade. “Se eu não souber o que colocar no sortimento, além de não girar o produto, vou ter capital de giro comprometido em produto que fica parado na gôndola, vou ter prazo de pagamento comprometido e vou ter o grande desafio de gerar e manter o negócio. Se eu não tenho mix de produto adequado, ou eu tenho sobra de produto que não gira ou eu tenho falta de produto que causa perda de venda. Se não há boa gestão sobre a forma como eu vou apresentar esse produto, sobre como eu vou apresentá-lo e negociar isso com a indústria e com a distribuição, se torna muito difícil manter a fidelidade do consumidor, bom nível de serviço, giro, caixa e ainda por cima, investimento.” Segundo ele, essa é uma situação extremamente chave. Chave na mão do distribuidor e na mão do varejo.

“Papel do distribuidor é se posicionar adequadamente para que não haja falhas na reposição do varejo. A venda da farmácia independente, do associativismo e da pequena e média rede ainda é o grande celeiro de oportunidade da distribuição. E se não trabalharmos bem na gestão desse mix, na gestão de como executar a reposição, e na visão de preço, para conseguir chegar no varejo e manter a rotatividade, haverá perda de espaço. Está nas mãos da distribuição hoje, levar capacitação, estratégia e gestão para a farmácia, se isso não passar, teremos uma parte importante do nosso mercado diminuindo cada vez mais e esse mercado, que era uma parte importante de venda da distribuição, deixará de existir ou se tornará cada vez menos relevante. A farmácia pequena está crescendo também, mas a dificuldade dela é chegar a um evento como esse e entender onde pode melhorar o negócio, quem pode fazer essa ponte? Só a distribuição”.

Um destaque do evento foi a palestrante internacional Raheleh Nassaji, da Pfizer, que falou sobre doenças não transmissíveis e oportunidades em países emergentes. Segundo ela, as doenças não transmissíveis matam 41 milhões de pessoas por ano sem serem diagnosticadas e custarão US﹩ 47 trilhões até 2030. Elas impactam a força de trabalho, o que prejudica a economia de uma maneira geral. Há de se levar em consideração a morbidade e não só a mortalidade.

“As pessoas não sabem o que é hipertensão, nem que têm hipertensão. Por exemplo, na China 250 milhões de pessoas são acometidas, desse total, cerca de 50% sabe e somente 15% trata. A abordagem holística é a única forma de lidar com o problema, mudar estilo de vida e outros fatores de risco como alimentação, sedentarismo, envelhecimento e poluição.

A Conferência contou ainda com Daniela Diniz, da Great Place To Work, que falou sobre como o mundo do trabalho está evoluindo e quais são as tendências para a transformação que já começou; e Thiago Penido, da F. Curado, que falou de governança corporativa.

Para finalizar, aconteceu um debate entre os participantes, avaliando os conteúdos apresentados e como será o impacto na distribuição e no varejo farmacêutico nacional.

Próximo evento: Abradilan Conexão Farma

Considerado um dos maiores eventos do setor farmacêutico do Brasil, o Abradilan Conexão Farma (www.abradilanconexaofarma.com.br) chega em sua 16ª edição repleto de novidades e com uma grade de conteúdo completa e atual.

A feira acontecerá entre os dias 17 e 19 de março, no Expo Center Norte, na capital paulista, com mais de 100 expositores da indústria farmacêutica, Higiene & Beleza (H&B), nutrição e serviços. Essa é uma excelente oportunidade para estreitar relacionamentos, obter conhecimento e efetivar negócios.

SERVIÇO

Evento: 16ª Abradilan Conexão Farma
Data: 17 a 19 de março de 2020
Horário: das 14h00 às 21h00
Local: Expo Center Norte
Endereço: Rua José Bernardo Pinto, 333, Vila Guilherme, São Paulo (SP)

 

Com informações da Assessoria da Abradilan – Lígia Favoretto

Foto de Alexandre Nascimento

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