02 de outubro de 2020

Cegueira irreversível por glaucoma é desconhecida por 53%

Grande parte da sociedade brasileira não está ciente sobre a importância da frequência às consultas ao oftalmologista, sabe pouco sobre o glaucoma e desconhece seu risco de cegueira. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Um olhar para o glaucoma no Brasil”, aplicada pelo IBOPE Inteligência a 2,7 mil internautas brasileiros, a partir dos 18 anos de idade, em diferentes regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Pernambuco.

O levantamento faz parte de uma ampla investigação sobre o cenário do glaucoma no Brasil e a necessidade de uma nova visão sobre a doença. A iniciativa contempla também o lançamento da campanha de conscientização “Não perca seu mundo de vista, tenha um novo olhar para o glaucoma”, conduzida pela Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) e pela Upjohn, divisão da Pfizer focada em doenças crônicas não transmissíveis.           

“Confirmar o quanto existe de desinformação sobre o glaucoma é muito preocupante. Mais da metade dos entrevistados não sabe que é a maior causa de cegueira irreversível e 41% não conhece a doença que atinge diversos grupos da população. Além disso, segundo dados do IBGE, a deficiência visual mostrou-se a mais frequente no Brasil, atingindo aproximadamente 7,2 milhões de pessoas1”, afirma Luiz Fernando Vieira, gerente médico da Upjohn.    

Saúde ocular

A desinformação sobre a relevância do cuidado com a visão é, de fato, muito evidente na pesquisa. Quando perguntados sobre a frequência que vão ao especialista, 10% dos entrevistados assumiram que nunca foram e 25% disseram que raramente, apenas quando sentem algum incômodo nos olhos. Destaque para as faixas etárias mais jovens: um a cada cinco relatou nunca ter ido ao oftalmologista (21%) e 10% foram uma única vez na vida. Embora a maioria (73%) dos que têm 55 anos ou mais – público que deveria ter uma preocupação ainda maior com desenvolvimento de doenças oculares -, visite o oftalmologista uma vez ou mais por ano, a pesquisa mostra que 1 em cada 4 deles não possui uma rotina de visitas ao oftalmologista.

Além disso, do total da amostra, 30% acreditam que deva procurar o oftalmologista somente depois que começa a usar óculos e 23% após perceberem alguma perda de visão.

Na sua opinião, quando a visita ao oftalmologista deve se tornar frequente (pelo menos uma vez ao ano)?
IDADE
TOTAL 18 A 24 25 A 34 35 A 44 45 A 54 55 E MAIS
Na terceira idade, a partir dos 60 anos 5% 5% 5% 3% 4% 10%
Quando a pessoa começa a usar óculos 30% 32% 31% 28% 28% 33%
A partir dos 40 anos 19% 11% 12% 23% 30% 22%
Quando a pessoa percebe alguma perda de visão 23% 20% 22% 20% 29% 24%
Quando a pessoa sente dor nos olhos 13% 21% 18% 13% 6% 4%
Não sei responder 9% 11% 11% 12% 3% 6%

“A sociedade, principalmente os jovens adultos, desconhece a seriedade das doenças oculares e entende que deve esperar por sintomas para buscar ajuda ou até mesmo relaciona que essa procura deve ser apenas quando estiver mais velho”, explica. “Porém, a rotina na ida ao oftalmologista é essencial para o diagnóstico precoce de patologias e para prevenção da cegueira”, conclui o diretor.

Apesar de entenderem que a exposição ao sol também requer cuidados com os olhos, que precisam ser protegidos da radiação ultravioleta por meio de óculos escuros (86%), que o uso excessivo de eletrônicos, como TV, computador, tablet e smartphone, pode ressecar os olhos e atrapalhar o sono (83%) e que coçar os olhos pode causar irritações, lesões oculares ou até problemas na córnea (82%), 13% visitam o especialista apenas quando têm alguma dor nos olhos. Já entre os entrevistados jovens adultos, com 18 a 24 anos, esse porcentual sobe para 21%.

Alguns dados também chamam a atenção regionalmente: 18% dos internautas baianos e proporção idêntica de catarinenses aguardam sentir algum incômodo para agendamento médico, 33% dos cearenses acreditam que a consulta deve ocorrer após começar a usar óculos e 32% dos catarinenses apenas quando percebe alguma perda de visão.

Glaucoma e grupos de risco: um amplo desconhecimento

Estatísticas fornecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo, ficando atrás apenas da catarata. Entretanto, representa um desafio maior para a saúde pública do que a catarata, porque a cegueira causada pelo glaucoma é irreversível2.

Mais do que indicar a falta de conhecimento sobre a importância das consultas com especialistas, a pesquisa revela uma forte desinformação a respeito da patologia. Mais da metade (53%) desconhece que a doença possui a maior probabilidade de um quadro de cegueira irreversível e 41% sequer sabem o que é glaucoma, chegando a 53% dos jovens de 18 a 24 anos (ante 71% entre os com 55 anos ou mais) e 44% do público masculino entrevistado (contra 38% das mulheres).

Você sabe o que é glaucoma?
SEXO IDADE
TOTAL MAS FEM 18 A 24 25 A 34 35 A 44 45 A 54 55 E MAIS
Sim 59% 56% 62% 47% 53% 64% 64% 71%
Não 41% 44% 38% 53% 47% 36% 36% 29%

 

Sobre a pressão intraocular, principal exame para prevenção e controle da doença, 52% desconhecem se já mediram, não sabiam que existia ou se o oftalmologista já mediu. Esse percentual sobe para 58% no Rio Grande do Sul e 60% entre a classe C, sendo que mais de 90% das pessoas com deficiência visual no mundo vivem em países pobres ou em desenvolvimento3.

“As fases dentro dos tipos de glaucoma – aberto ou fechado – são muitas vezes assintomáticas e os pacientes muitas vezes buscam o tratamento em uma fase já bastante adiantada da doença. Uma vez que a visão foi perdida, ela não pode ser restaurada”, relata o mestre e doutor em Oftalmologia, Augusto Paranhos Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).

Apesar de 53% assumirem que ficariam abalados ao perder a visão por receio de perder a autonomia para fazer as atividades do dia a dia e depender das pessoas, apenas 37% entendem que a ida ao oftalmologista com frequência é uma medida que ajuda a diminuir os riscos. Contraponto para 39% que desconhecem sua probabilidade de cegueira, com destaque para o número de negros e pardos que sobe para 42%. E 15% associam a perda da visão com o desconforto nos olhos, então entendem não estar no grupo de risco.

Alguns públicos estão mais propensos ao glaucoma e a pesquisa reforça que a maioria das pessoas desconhece quais fazem parte desse quadro. Estima-se que entre 2 a 3% da população brasileira acima de 40 anos possam ter a doença, o que representa cerca de 1,5 milhão de pessoas. Além de existir a maior chance de desenvolvimento em pessoas com casos na família, afrodescendentes e pacientes com pressão intraocular elevada3. O levantamento revela que quase metade (47%) acreditava ser um mito ou desconheciam a relação com a hereditariedade. Além disso, 90% não associavam a patologia com a afrodescendência, sendo que a porcentagem se mantém elevada entre os pretos e pardos entrevistados (86%).

Ainda em relação aos públicos de risco, 63% entendem que doenças metabólicas, como o diabetes, podem aumentar o risco de glaucoma. “Isso ocorre porque os pacientes diagnosticados fazem acompanhamento médico constante e entendem seu risco de cegueira. Por isso, o conhecimento é maior dentro desse grupo”, avalia Paranhos.

Diagnóstico, tratamento e adesão

Projeções do IAPB (Agência Internacional para Prevenção da Cegueira) indicavam aproximadamente 80 milhões de pessoas com glaucoma em todo o mundo e estimavam que 3,2 milhões de pessoas ficariam cegas devido à doença até o final de 20204.

            Também com base em estudos brasileiros, há um grande número de pacientes não tratados devido a dificuldades de diagnóstico e baixa adesão. Apenas 10% são diagnosticados e tratados5 e 41% abandonam o tratamento devido a dificuldades de acesso6. Dado que pode ser comprovado ponderando a condição financeira dos entrevistados, quando 83% dos que pertencem à classe A afirmam que vão ao oftalmologista pelo menos uma vez ou mais de uma vez por ano, enquanto esse número cai para 46% na classe C. Cerca de 50% da população com glaucoma não sabe que têm a doença, ou seja, ainda não foram diagnosticados7.

Perguntados no levantamento sobre os tratamentos para glaucoma, mais da metade (51%) não soube opinar a respeito, acredita não existir tratamento ou que usar óculos ou lentes de contato diariamente corrige o problema.

 “A maioria dos entrevistados não soube opinar ou acredita ser mito não existir uma cura para o glaucoma, outro dado importante que revela o desconhecimento que permeia a doença. É possível estabilizar o glaucoma e evitar a progressão da cegueira, por isso a importância do diagnóstico precoce. Porém, temos de frisar: não existe cura e, sim, prevenção”, analisa o presidente da SBG.

A automedicação também é um tema relevante, já que 28% discordam ou não sabem sobre a necessidade de consulta médica para utilização de colírios. Entre os jovens de 18 a 24 anos, destaque para quase 1 a cada 3 (32%) que acreditam que esses medicamentos são inofensivos ou não sabem opinar sobre a necessidade de consultar um especialista para usa-los. A Anvisa alerta que os colírios corticosteroides devem ser vendidos sob prescrição médica, de forma a evitar o seu uso indiscriminado e incorreto devido aos riscos à visão associados ao uso inadequado dessas substâncias8.

A OMS aponta que se houvesse um número maior de ações efetivas de prevenção e/ou tratamento, 80% dos casos de cegueira poderiam ser prevenidos ou curados9.  “Vale lembrar que estamos falando de uma doença de elevado potencial e que está associada a um desfecho irreversível que é a cegueira. Por isso, reforçamos a importância da frequência médica para prevenir e de iniciativas de conscientização para fomentar o diálogo sobre o tema”, destaca Vieira.

Referências:

  1. Pesquisa nacional de saúde: 2013: ciclos de vida: Brasil e grandes regiões / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro: IBGE, 2015. 92 p.
  2. Kingman L. Glaucoma is second leading cause of blindness globally. Bulletin of the World Health Organisation, 2004; 82 (11): 887-8.
  3. OttaianoJJ; ÁvilaMP; UmbelinoCC; TalebAC. As Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019. Edição 1 – 2019.p14.
  4. Von-Bischhoffshausen e Jiménez-Román J. GUÍA LATINOAMERICANA DE GLAUCOMA PRIMARIO DE ÁNGULO ABIERTO PARA EL MÉDICO OFTALMÓLOGO GENERAL. IAPB.p93.
  5. Ramalho, Cristiana Moraes et al. Perfil socioeconômico dos portadores de glaucoma no serviço de oftalmologia do hospital universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora – Minas Gerais – Brasil. Arq. Bras. Oftalmol., Out 2007, vol.70, no.5, p.809-813. ISSN 0004-2749
  6. Topouzis F, Anastasopoulos E. Glaucoma – The importance of early detection and early treatment. US Ophthalmic Review. 2007;2:12-13.
  7. Topouzis F, Anastasopoulos E. Glaucoma – The importance of early detection and early treatment. US Ophthalmic Review. 2007;2:12-13.
  8. Acesso disponível em: https://bit.ly/2Zq6Xk3 Acesso em 13.07.2020.
  9. World Health Organization. < https://www.who.int/blindness/world_sight_day/2017/en/>. Acesso em 18 nov 2019.

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